Quando o visitante chega a Brasília em busca de mais do que monumentos cívicos e avenidas largas, é na Feira do Guará que ele encontra o lado mais humano da capital. O episódio “Feira do Guará – O Mercado Municipal do DF”, da inovadora websérie Hackacity, mostra com sensibilidade e frescor o que os brasilienses já sabem há décadas: a feira é mais do que um centro de compras — é uma experiência cultural completa, um símbolo de identidade local e um potente polo turístico.
Fundada de forma espontânea no final dos anos 1960, a feira começou como um espaço onde agricultores e produtores locais vendiam seus produtos. Em 1983, foi inaugurada com estrutura permanente, tornando-se a maior feira coberta do país à época. Desde então, transformou-se em um lugar onde o passado e o futuro se encontram. A cada banca, um sotaque, uma receita, uma história — e, mais recentemente, um novo olhar para inovação e sustentabilidade.
A narrativa do Hackacity nos conduz por corredores cheios de vida e cheiros, em que a tradição do caldo de cana com pastel divide espaço com peixarias premiadas, bancas de temperos do Norte, farinhas do Centro-Oeste, doces do Sul e moda para todos os corpos e estilos. Ao todo, são mais de 600 bancas, das quais 300 dedicadas à moda — um verdadeiro shopping popular com alma brasiliense.
A feira é apresentada como uma espécie de “mercado municipal emocional”: um espaço onde a arquitetura da cidade cede lugar à arquitetura das relações. Os feirantes são personagens de um teatro cotidiano que encanta moradores e turistas. São histórias como a do gaúcho que trocou a gerência de hotel por uma banca de pastel, ou da empreendedora que criou sua própria linha de cosméticos naturais a partir da biodiversidade do Cerrado.
Mas a Feira do Guará não vive apenas de memórias. Com acesso facilitado pelo metrô, amplo estacionamento e constante renovação de seu mix de produtos e serviços, ela está pronta para o turismo do século XXI. Iniciativas como a integração de tecnologias digitais, a capacitação dos feirantes e a valorização da cadeia produtiva local fazem da feira um modelo de economia criativa e colaborativa, alinhado aos princípios das cidades inteligentes, defendidos pelo projeto Hackacity.
Situada no coração do Guará — região administrativa que nasce do esforço coletivo de seus moradores e hoje desponta como laboratório urbano de inovação social — a feira reflete o espírito de Brasília que nem sempre cabe nos cartões-postais: plural, criativo, resiliente e profundamente humano.
Em tempos em que o turismo busca mais do que destinos, busca vivências autênticas, a Feira do Guará desponta como uma parada obrigatória. Ali, o visitante encontra não só o melhor da gastronomia e da cultura popular, mas também um exemplo vibrante de como a cidade pode ser construída de dentro para fora, com protagonismo popular e respeito à memória coletiva.
Ir a Brasília e não passar pela Feira do Guará é como visitar Paris e não ver o Sena.
A capital do país pulsa — e muito — no compasso ritmado dos feirantes do Guará.