À sombra do concreto de Brasília e de seu traçado modernista, um bairro pulsa arte, música e memória viva. O Guará, tradicional região administrativa do Distrito Federal, revela-se no episódio 106 da websérie Hackacity como um dos maiores polos culturais da capital federal — e talvez o mais espontâneo, livre e pulsante. Mais do que um bairro, o Guará é um território criativo, onde o urbanismo se entrelaça com a cultura popular e a arte emerge como ferramenta de cidadania.
É impossível falar da história cultural do Distrito Federal sem passar pelos caminhos que cortam o Guará. O episódio nos guia com sensibilidade por esse mapa vivo, destacando o que há de mais expressivo: da capoeira nas praças à explosão do reggae e do rock’n’roll que nasceu entre as quadras. O Guará foi palco do primeiro show da Legião Urbana, quando um ainda anônimo Renato Russo gritou o nome do bairro em êxtase no Teatro de Arena, espaço histórico que já deveria ser tombado como patrimônio imaterial da cidade.
Esse mesmo teatro, parte do complexo CAVE (Centro Administrativo Vivencial e Esportivo), comporta mais de 5 mil pessoas e foi responsável por dar voz a uma geração de artistas, músicos e poetas. Em tempos de resistência, o CAVE se firmou como um bastião da liberdade de expressão e da pluralidade cultural. O episódio mostra que ali não é apenas um palco: é um símbolo. Ao redor dele, o Guará abriga um ginásio, kartódromo, pistas de skate e bicicross, quadras, e a Casa de Cultura — espaço raro e precioso nas cidades-satélites do DF.
A cultura, como reforça a websérie, não é um adorno: é infraestrutura essencial de uma cidade inteligente. E o Guará entendeu isso muito antes que a palavra “smart city” se tornasse tendência global. Projetos como a Geladeira do Livro — geladeiras grafitadas que funcionam como bibliotecas comunitárias ao ar livre — e o Mulherau, sarau que reúne mulheres artistas e ativistas, dão conta de uma cena viva, descentralizada e inclusiva.
Os espaços urbanos do Guará não são apenas construções físicas; são pontos de encontro simbólicos, onde a identidade de seus moradores se fortalece. As praças, tão numerosas que o bairro é conhecido por ter uma das maiores proporções de áreas verdes por habitante do DF, são palco de rodas de capoeira, feiras, apresentações e festivais que conectam gerações.
O episódio nos mostra também a importância de transformar essas manifestações em política pública. O Hackacity Guará tem entre seus objetivos articular um calendário cultural unificado, que dialogue com o poder público e insira o bairro nas rotas turísticas oficiais do Distrito Federal. Com um turismo mais voltado à experiência, à imersão e ao território, o Guará se posiciona como um dos destinos mais genuínos da capital.
Para quem visita Brasília e deseja entender o que pulsa por trás dos palácios, dos eixos e dos blocos, a resposta pode estar no Guará. Mais do que um bairro, ele é um palco democrático a céu aberto, onde o DF se reconhece e se reinventa. E para quem vive ali, cada praça, cada teatro, cada evento comunitário é um lembrete de que cultura é política, é futuro, é pertencimento.
Como conclui o episódio: “Com tantos espaços e projetos, você vai ficar de fora? Vem para o Guará.”